Cada amor tem suas peculiaridades.
Quando juntos, elas fazem parte da rotina. Quando separados,
elas podem fazer parte das lembranças. E se as lembranças serão boas ou não,
algumas vezes podemos optar – algumas vezes, pois em outras, algumas marcas
serão dolorosas sempre... mas vamos tentar focar nas boas ou nas que
transcendem valores.
Tem muitas coisas que faço no meu dia-a-dia que já foram
rotina de uma história de amor. Por vezes, algumas dessas ações estão tão
banalizadas na minha rotina que nem lembro destes momentos amorosos. Em
compensação, tem outras coisas que trazem inevitavelmente a lembrança de alguém.
Por exemplo, tomar café corriqueiramente nem sempre traz
lembrança. Mas sentar pra observar o mundo e degustar uma café sempre me traz 3
amores e um amigo. Por vezes, apenas o cheiro do café é suficiente pra evocar a
presença destes amores.
Um desses amores anula os demais se o café for acompanhado
por chocolate ou amigos que ficaram.
Tem um amor que vem com uma xícara de chocolate italiano bem
quente. Um outro vem com uma xícara de leite com açúcar queimado. Outro vem com
o cheiro do manjericão. Outro com o cheiro de livros na estante. Tem um que vem
com gosto do brie com damasco. Aspargos ao molho de limão. Salmão defumado.
Cheiro de flores. Um prato. Uma toalha. Uma peça de roupa que ficou ou que
veio. Um recadinho deixado até hoje entre objetos aleatórios.
Tem amor com cheiro de Seda Melanina UV. Outro cheira a OX.
Mel. Canela. Bolo de chocolate. Floresta da Tijuca.
Fazer iogurte traz lembranças. Comê-lo com doce de banana ou
com açúcar mascavo também.
Pão com ovo.
Banho de chuva. Pôr do sol. Stella Artois. Mojito. Merlot.
Várias canções tocadas e outras choradas ao violão.
Um travesseiro. Um cobertor.
O cheiro de alguns produtos de higiene ou limpeza.
Algumas cidades. Algumas ruas. Algumas praças. Algumas
festas. Alguns amigos. Prostitutas. Gatos. Cachorros de rua. Alguns carros.
Um corte de cabelo – seja meu, seja dos outros.
Alguns trajetos de viagem. Algumas ausências em viagens.
Sexshops. Restaurantes de beira de estrada. Quartos de
hotel. Sala de espera em rodoviárias. Embarque de aeroporto.
O cheiro da maconha. A carteira de Lucky Strike que eu
compro pra fumar e lembrar dos gestos de uma determinada mulher e seu menear
quase frenético de cabeça.
Das canções que tocam aleatoriamente nas playlists, algumas
têm endereço. Outras criam e recriam endereços e expressões a todo momento.
Muitas vezes eu refaço essas ações, as provoco exatamente
pra sentir as presenças que elas evocam. A paz ou a alegria de alguns
passados...
Outras vezes me pego fazendo coisas que não trazem
referências. É uma experiência quase budista de vazio. Por vezes é quase
mecânico.
É como se esses detalhes que ficaram mantivessem esses
amores vivos em mim. São bem específicos, pois houveram amores que não deixaram
nada. Nem o oco absurdo do Djavan... Amores que estragam os versos e ainda
explodem o fogão.
Acontece.
Assim como sempre acontecerão essas profusões de lembranças
em meio aos atos cotidianamente provocados ou não.
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