segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Presente pra Preta

Landa Ciccone - Dois (Tiê)

Uma pequena lembrança pra quem me lembra o tempo todo.
Com todo amor.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Como esquecer

O que será que é o contrário do amor?
Algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.
O amor é sempre um pacto contra o tempo.
Como esquecer?




O fim de uma relação nos leva a buscar sentimentos que sejam contrários ao amor, que auxiliem e justifiquem o esquecimento. A ajuda que falta para suportarmos ou nos abandonarmos a dor que já não pode mais ser compartilhada. Precisamos reagir.


“O que será que é o contrário do amor?”


Antes de buscar respostas pra isso, devemos investigar o que é o amor. Num parecer pessoal, o amor é sempre um sentimento solitário, assim como a paixão, os prazeres e as dores: não há medida para eles. O amor pressupõe a vontade de compartilhar de tudo, ter para onde correr seja para um abraço e um beijo caloroso, seja para um ombro acolhedor e disposto a oferecer cuidados. Penso que amar é cuidar, em todos os momentos. Amar é fazer respirar e tirar o fôlego. Ter sapiência disso.


Quando examino aqui o amor, não me prendo ao amor de Eros, pois prefiro tratar desde como paixão ou amor físico. Procuro me referir ao amor que partilha do conhecer o outro e ser suporte para este. Prefiro especificá-lo por cumplicidade.


Conviver com o outro incide em aceitar sua situação presente e seu passado. Estar junto para a construção de situações futuras melhores. A vontade de se unir ao outro, estar conectado com aquele que te dá segurança, autoconfiança e o prazer desta convivência.


“O amor é sempre um pacto contra o tempo.”


Se amar é lutar contra o tempo, quando o amor acaba? Será que ele acaba? Que os descuidos acontecem é fato. Se o objeto de seu amor já não lhe serve mais, ele era amado realmente ou foi apenas um meio conveniente que se esgotou?


As pessoas usam umas às outras para obter a satisfação das sensações, seja pela presença prazerosa ou pelo conforto ou segurança financeira. Quando estas coisas acabam, somos descartáveis. Ou pior: substituíveis.


O parasita parte em busca de outro hospedeiro para seu, dito, ‘amor’. E quem fica sente o peso da vitória do tempo sobre a ilusão de ter encontrado alguém que goste de você pelo seu sorriso tímido, pelas feições tristes de um dia ruim, pelo seu jeito de olhá-la, pela paz do abraço, o peito acolhedor, as mãos entrelaçadas, as ligações inesperadas no meio da noite... A simples expressão da saudade que o outro causa. Parece que todas as atribuições dadas ao outro foram mentiras. Não sabemos. Talvez nem o outro saiba.


Daí a necessidade do distanciamento. Quando nos afastamos lançamos outra perspectiva sobre o amado. Observamos os detalhes antes ignorados. Vemos os interesses, comportamentos, olhares lançados sobre os outros. Notamos que, se ontem, parecia que nosso abraço era o refúgio onde se podia esquecer todos os problemas, hoje sequer é um objeto varrido pra debaixo do tapete. Já não fazemos diferença e deixamos de ser importantes pra quem tanto nos importa. Hoje tudo está voltado pra outra pessoa. Você não tem mais nada a oferecer, se tornou obsoleto. Sua presença agora é apenas para inflar o ego ou para machucar.


Acreditar que tudo isso é mentira é causar mais dor a si, esperando que o amado seja tão cuidadoso quanto o amante.


Ninguém oferece amor na mesma medida. Amor nunca é recíproco.


E quando chega a hora de acabar com o que já estava falido, parece que é importante causar dor ao outro e a si mesmo. Brigar se faz necessário pra justificar o desafeto. É como se, a separação necessitasse da violência. Inclusive a violência interna, o medo de ouvir as palavras cuja existência já era evidente.


Penso que as pessoas se unem porque querem estar juntas, e se separam porque não querem mais estar juntas. E não vejo necessidade de violência para abrir a porta e deixar que outro se vá – ou fique plantado em nossa porta esperando o momento em que ninguém no mundo seria mais preciso que ele.


Talvez esse momento nunca venha e ficamos ao relento de tantas noites tornadas dias à toa. Abandonados, como cão doente. E a espera cansa.


É então que decidimos tentar voltar à vida: “Algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.”


Ela não te quer por perto. Talvez nem ela mesma saiba disso. Talvez até queira, afinal, se tudo der errado ela terá você para culpar ou para se redimir. Nem todo mundo concebe que maltratar não é direito de ninguém. Nem todo mundo consegue pedir desculpas pelas falhas. Por isso preferem culpar os outros por todos os seus fracassos.


Depende de nós assumir a tolerância de um ninja ou o desapego de um samurai caçador de recompensas. Não há neutralidade nesta situação. Há muita dor, em ambas as opções.


Voltar geralmente é partir para um outro lugar. E não importa o quão longe a gente vá e nem se voltaremos. Carregaremos sempre estes amores que compactuaram contra o tempo e nos tornaram pessoas piores do éramos. Nos tornaram inseguros, incertos e desconfiados, afinal, tudo o que amamos partiu pra nunca mais voltar e agregou a dor ao amor.


Ninguém é capaz de te amar. Você não tem mais nada de importante para ela. Nem dinheiro e teu imprestável amor. Sempre gostamos de pessoas que não gostam da gente


Como esquecer? Improvável que seja possível. Essas coisas vão te machucar pra sempre e moldar todas as tuas relações vindouras.


O que será que é o contrário do amor?


Penso que não conseguirei responder essa pergunta enquanto o meu amor doer tanto de desprezo e descuido.


Talvez um dia eu seja capaz do distanciamento oferecido pela prudência para ponderar sobre a natureza dos eventos. Com o tempo a gente passa a evitar a foto na parede e ninguém vai notar que jamais seremos os mesmos.


Uma coisa é certa. Não se pode negar a beleza dos momentos agradáveis do passado, a sensação de conforto de outrora, os olhos que se diziam apaixonados. Por mais difícil que seja aceitar que o outro já não sente o que dizia sentir, é necessário acreditar que o que ele diz é verdadeiro e não apenas uma tentativa de se iludir ou se enganar. É preciso dar valor às palavras do outro.


E ao tempo, uma canção: “Tudo se agita em vão e é tão bonito. Não se consome o presente infinito. Preta Pretinha! Lembrei o teu nome e vou te chamar.”













sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ENEFIL RIO 2011: Apresentação do XXVII ENEFIL

ENEFIL RIO 2011: Apresentação do XXVII ENEFIL: "No XXVI Encontro Nacional de Estudantes de Filosofia, realizado em Janeiro de 2010, na cidade de Fortaleza/CE, estudantes de graduação em Fi..."

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Meus bens são todas as lembranças

Penso muito sobre o amor. Pensei demais ao longo da vida. Depois da primeira vez que a terra tremeu e um buraco me engoliu nos dias que seguiram, tornei-me melancólica e depressiva. Qualquer pedaço de amor tornara-se um peso desagradável nas costas. O qual eu não estava nem um pouco disposta a carregar.
Com o tempo e a estrada, surgem novos rostos, outros sorrisos e o amadurecimento de alguns sentimentos.
Tudo o que era perene foi engavetado em algum lugar da memória.
Já não dói mais como antes. Chega a ser engraçada a lembrança de todo sofrimento vão por alguém que nem se importava mais com você.
Agora há algo novo diante dos olhos. Algo que parece maior: a possibilidade de ser mais e da terra tremer outra vez.
Ela te busca, tenta chamar atenção de todas as formas e até nega isso. Os olhos dela não desprendem de você e é assustador a possibilidade de se apaixonar outra vez. Mais assustador ainda é a possibilidade de alguém se apaixonar por você, pois você é o grande erro da humanidade. Você é o ser mais substituível que existe. Você sabe que, não vai demorar para que ela esteja com braços e pernas ao redor de outra pessoa, dizendo as coisas que dizia pra você. Suspirando no ouvido de outro alguém as coisas que você precisa ouvir, única e exclusivamente, na voz dela.
Você buscou novas palavras pra ela. Inventou novas canções. Contou dos novos medos que nunca compartilhasses com ninguém. Você dividiu seus desejos e acreditou que ela era a pessoa mais íntima que você tinha. As sacanagens que você nunca teve coragem de dizer a alguém durante o sexo, você disse pra ela.
Ela se declarou. Te olhou nos olhos como ninguém mais. Todos os outros olhares ficaram pra trás. Ela te amou e acreditou que você a amou mais que tudo. Disse tudo o que sentia. Foi honesta mesmo em sua confusão e em seus dias mais difíceis. Ela te viu ser paciente e capaz de suportar toda a dor em silêncio. Às vezes, sem suportar mais o silêncio. Te pediu desculpas com este mesmo silêncio que te condenou. É como se ela soubesse o jeito certo de juntar os pedaços do seu coração. E o faz com precisão.
Você tem certeza de que ela te ama, mas te afasta por você não serve pra ela.
Mas suas certezas podem estar erradas. Assim como as palavras que ela usa pra te empurrar pra longe.
Já usou todas as armas? Acha que é covardia apelar? Amar em silêncio não o é também?
Amar é um ato solitário. Você descobre isso todos os dias depois que ela disse que não quer você. Dormir não é difícil, mas até reconfortante. O problema é acordar. O sono é a morte incompetente, que nunca termina o serviço que começou.
Amor nunca vem sem angústia.
Você escolheu se angustiar com ela e acha que tudo foi vão. Gostaria de, como no filme Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, encontrar alguém que apagasse todas as lembranças dela, pois a angústia se tornou insuportável.
Mas sua vida ainda faria sentido sem a lembrança dos dias luminosos ao lado dela? Não dói pensar em esquecer o que você sentiu no primeiro beijo de vocês? Esquecer as lembranças do corpo dela junto ao seu, os olhos dela dizendo-se apaixonada e sua expressão abobalhada olhando a mulher mais linda do mundo. Esquecer a primeira noite de amor, os beijos que mais pareciam uma dança coreografada, o cheiro e o gosto dela. Esquecer o jeito que ela te abraçava e te fazia esquecer do mundo. O brilho, a maciez e o cheiro dos cabelos dela. O sorriso que antecedia cada beijo. O beijo que antecedia cada suspiro e olhar apaixonado. Esquecer das vezes que ela correu para os seus braços, dos momentos que ela teve medo de te perder, das manhas inerentes à paixão. As canções que ela te deu. Os lábios dela dizendo o seu nome.
Tudo isso se perdeu mesmo? Os sonhos que ela comprou morreram quando ela não te quis? Ok, que ela agora sonha, faz ou deseja isso com outra pessoa, que ganhará o apelido afro que era teu, e que você fez só dela.
O fato de você não ser a pessoa que ela quer, de você ser incapaz de manter o amor de quem você ama, é suficiente pra anular esses dias luminosos? O que você sente/sentiu e sua crença na sinceridade dela se tornaram insignificante e vão só por não escolher você?
Se isso for motivo, ame apenas as árvores. Pois você sabe que nunca houve e nem haverá amor maior que o dia em que ela te abraçou depois do sexo, beijando a sua nuca compulsivamente, te mantendo entre as pernas e os braços dela, enquanto um amigo se admirava do amor que emanava.
Aquela noite foi a mais feliz da minha vida. E eu sempre terei lágrimas nos olhos quando lembrar dela. Eu sempre vou pensar em você quando eu quiser lembrar o que é felicidade.

domingo, 25 de julho de 2010

Não há tempo a perder!

“I don’t have much time to waste
It’s time to make my way.
I’m not afraid the world I’ll face
But I’m afraid to stay.”
(MADONNA, Jump)

Usar qualquer frase de Madonna para iniciar uma fala pode parecer fútil ou qualquer coisa. E pra tratar de política então, nem se fala!
Odeio política. Quem me conhece sabe disso.
Tenho título de eleitor há 9 anos e nunca votei em ninguém. O motivo? Nunca me deparei com candidatos que valessem a prostituição eleitoral que é o ato de votar. Sim, afirmo que votar, assim como casar, é um ato de prostituição legal. Somos comprados e explorados com belas palavras e utopias. No fim, quando vemos que nossas expectativas não são atendidas, nos sentimos usados pelo outro, que conseguiu o poder e suas facilidades às nossas custas.
Sou homossexual. E até quem não me conhece sabe disso.
Já tem alguns anos que me inscrevi no grupo de emails do Arco-Íris – principal articulador do movimento gay do Rio de Janeiro. E repassam todo tipo de assunto, pois não há um mediador. Mas tudo bem. Eu sabia disso quando entrei. E confesso que ultimamente determinados assuntos – sempre a política – têm me irritado bastante. Cheguei a pedir exclusão do meu endereço do grupo. Mas não fui atendida – essa coisa de grupos de discussão é bem sacana, pois nunca te excluem na boa, você tem que aprontar algo bem ofensivo para ser expulso. Ainda não aprontei nada, mas estou prestes. Talvez.
Devo ser sincera e afirmar que o movimento gay é egoísta. Todo movimento de defesa de minorias é egoísta. Tenho regurgitado Wollstonecraft compulsivamente. Ela acreditava, em pleno século XVIII, no feminismo como humanidade para todos. Inclui-se mulheres, escravos, velhos, crianças, homossexuais, negros, estrangeiros, presos, deficientes e outros que foram marginalizados ao longo da história.
Na obra A Política, Aristóteles distingue dois tipos de vida: Bios, a vida do homem, cidadão, sujeito qualificado que participava da democracia com voz articulada e que expunha seu pensamento na ágora; e Zoé, que era a vida das mulheres, dos escravos e dos animais, dos que não tinham espaço de voz. De acordo com Aristóteles, Zoé pertence à Bios.
A própria Revolução Francesa criou em 1789 a Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos, que pretendia realizar apenas o que propunha em seu título: a declaração dos direitos dos homens e dos cidadãos – que excluía, mais uma vez, todos os que sobraram, que restaram, que se esconderam, que se recalcaram, que não foram pensados e que foram impedidos de pensar. Não era uma declaração dos direitos humanos.
Este acontecimento foi o que levou Mary Wollstonecraft a escrever em 1792 um livro chamado Declaração dos Direitos da Mulher, onde ela diz: “o feminismo é uma defesa dos direitos da humanidade, não só dos direitos do homem, mas dos direitos de todas as pessoas de construir de fato uma humanidade universal no qual coubessem todas as pessoas, independente de seus sexos”.
Acontece que o tempo passou. Os que eram marginalizados se tornaram setor, e logo, minorias. Hoje cada um luta por direitos de seu grupo e não por direitos universais, por direitos humanos.
Não quero fazer propaganda de ninguém. Mas pela primeira vez temos uma disputa presidencial muito diferente do que estamos habituados. Entre os principais candidatos, duas mulheres.
Nos emails que recebo do grupo Arco-Íris é evidente a propaganda petista num fuzilamento constante da outra candidata, por ela ser evangélica, contra o casamento de iguais e coisas do tipo. E eu me pergunto, o que o governo petista, com todo o seu discurso e participação no movimento gay fez por este?
O movimento cobra tanto o reconhecimento dos direitos e da união de iguais – o que devo dizer, a candidata evangélica não nega e reconhece nossa existência e que temos direitos – e o que ganhamos nestes oito anos em que apoiamos um governo que diz apoiar o movimento? Não vejo nenhuma mudança, nenhum reconhecimento de direitos que não se desse por meio de brigas judiciais e empresas privadas ou no funcionalismo público de poucos estados da nação. Nenhuma novidade na constituição nacional.
E agora o que queremos? Mais quatro anos de discursos de apoio, presença em Paradas pelo país e nenhum reconhecimento dos homossexuais como cidadãos?
O movimento gay virou palco para a politicagem! Assim como o movimento dos sem-terra, que até hoje espera a reforma agrária.
Já está bem claro que não é o presidente quem vai nos dar esse reconhecimento, mas os parlamentares. É com eles que a gente tem que discutir, pois é muito improvável que um presidente se recuse a assinar uma decisão parlamentar.
E diante disso, entrego aqui sinto-me muito inclinada a votar pela primeira vez na vida.
Eu, Landa, mulher, homossexual, estudante, carioca, artista, atéia, budista, a favor do aborto enquanto libertação e afirmação da autonomia da mulher sobre seu corpo e sua vida, estou inclinada a votar na candidata Marina, mulher, evangélica, acreana, contra ou sem opinião a respeito do aborto e blá. E os motivos são bem claros:

1. Não admito o Serra e nenhum da sua laia no poder;
2. Dilma é a continuação do governo Lula, mais do mesmo, nenhuma novidade ou avanço, pois ao meu ver, o que o PT podia fazer pelo país já foi feito e criou-se uma situação de comodismo;
3. E se é pra não ter reconhecimento dos meus direitos enquanto cidadã homossexual, prefiro que suba ao poder alguém que tenha atitude e coragem pra mudar o resto.

Se ao menos conseguirmos uma presidente que defenda nossas fronteiras, nossas riquezas naturais, que junte a isso como prioridade a qualidade do sistema educacional e do sistema de saúde pública, pra mim está de bom tamanho. Pois essas coisas não prioridades pra mim por englobar todos os brasileiros. E é isso que precisamos pensar na hora de votar. Precisamos nos identificar como brasileiros e não como homossexuais, ou cristãos, ou mulheres ou seja lá o que for. Diante da urna – já que somos obrigados a comparecer ou justificar nossa ausência – devemos ter a identidade de um grupo bem maior, chamado Brasil.
Meus direitos e os de minha parceira, assim como de nossos filhos, podem ser conseguidos através da Justiça. Pode demorar e até ser cansativo, mas ela tem se mostrado nossa principal aliada.
Vejo Marina como uma mulher de princípios. Mesmo que eu não concorde com grande parte deles, consigo olhá-la como alguém que tenta separar os princípios pessoais dos princípios políticos, enquanto representante de indivíduos tão diferentes entre si. E não creio que ela vá promover uma caça à bruxas. Retroceder é impossível. Meu medo é a estagnação.
A necessidade de reflexão é vital, pois implica todos os envolvidos no ideal de uma humanidade justa, de um convívio pautado em ética e paz, numa boa educação, no respeito de uns pelos outros e pelo planeta. Temos que pensar muito no passado, porque ele está aqui, no presente.
Eu tenho 26 anos e quero mudança! Já estou cansada e angustiada. Quero o formigueiro e medidas radicais por melhores qualidades de vida neste país. E se a Marina não for a figura capaz de mudar o jogo, será pra mim a afirmação de que a esperança, ao contrário do que dizem por aí, é a primeira que mata.
Se nada der certo, sabemos bem que podemos destituir as pessoas que estão no poder. Mas até pra isso precisamos abandonar esse comodismo em que estamos mergulhados.
Vamos fazer barulho?
Esse é o nosso mundo e ele é feito pelas nossas escolhas!
E se comecei acreditando que Madonna pode fazer sentido para abrir minhas palavras sobre política, encerro com ela:

“Get up! It’s time!
Your life! Your world! Your choice!
You have to say what’s on your mind
If you wait too long will be too late.
The time is right now
You’ve got to read signs
We have no time to lose!!!”

Adoção de crianças por homossexuais

Nem vou me dar ao trabalho de refletir demais. Apenas rebaterei argumentos contra esse tipo de adoção, que giram em torno de clichês.
O que as pessoas que defendem o argumento de que família precisa de uma figura materna e uma paterna têm a dizer a respeito das famílias que não contam com essas figuras. Pais e mães morrem, vão embora, desaparecem, são vítimas da violência, são agentes da violência... A situação é bem ampla.
E não me venha com essa de ter referenciais femininos e masculinos. Muitos de nós fomos criados sem esses referenciais e isso em nada afetou nosso caráter. E o contrário também acontece.
Além do mais, homossexualidade não é sinônimo de falta de caráter ou debilidade. E orientação sexual é balela! Eu mesma fui criada com as figuras de pai e mãe, sem referências homossexuais, fui orientada à heterossexualidade, e no entanto sou homossexual (e desde antes de me entender por gente).
Uma família precisa de uma figura amorosa, capaz de prover a molecada de necessidades básicas às afetivas.
Não temos um sistema que ofereça condições à população de acesso a boa educação, saúde pública e subsistência, controle de natalidade, salários que sustentem e outras coisas mais.
Isso ajuda a manter a superlotação de orfanatos e o número de crianças abandonadas nas ruas, nas portas, nas lixeiras, nas matas e em outros tantos lugares. O governo não dá conta disso!
Agora eu pergunto: é melhor ter crianças vivendo nestas condições do que vivendo num lar composto por dois homens ou duas mulheres que querem e podem dar-lhes afeto, proteção e as condições básicas para que cresçam saudáveis física e mentalmente?
Se a maioria da população responder sim a essa questão, temerei por seus filhos, pois mais uma vez ficará provado que não sabemos amar, apenas possuir.

Preconceito Mascarado e Ingênuo

“Espero que meu próprio sexo me perdoe se trato as mulheres como criaturas racionais em vez de adular suas graças fascinantes e de considerá-las como se estivessem em um estado de infância perpétua.”
MARY WOLLSTONECRAFT, Vindication of the Rights of Woman, 1792

As notícias que ocupam as páginas dos jornais nas últimas semanas são recheadas por uma temática fragmentada e ainda aprisionada: a mulher. Não sei se só eu notei isso, mas é uma constante nos noticiários a violência contra a mulher. De assassinatos brutais à questão do aborto discutida pelas presidenciáveis – e cito apenas as candidatas porque não vejo relevância na opinião masculina quando o assunto é a mulher, e inclusive sou a favor da completa exclusão da participação deles no que diz direito ao feminino.
Parece-me que a condição feminina não mudou muito de 1792 até hoje, 2010, de acordo com o relato de Wollstonecraft.
Minhas linhas certamente serão extensas, mas espero ao menos ser bem clara em minhas intenções de levar um questionamento social aos poucos que se dão ao trabalho de ler o que raramente publico aqui. Saibam que, quando me dou ao trabalho de escrever e publicar é porque a inquietação é maior que minha paciência e tolerância com a burrice e a vocação pra rebanho dos que estão no mundo.
Pra começar, citarei uma tolice que poderia ser ignorada por mim. Mas meu profundo preconceito com os seguidores mascarados do pensamento kantiano de que a função da mulher é enfeitar, me impede de deixar passar esses pequenos detalhes.
Sou do tipo de pessoa que tenta prestar atenção em tudo, inclusive nos jornais atirados ao chão para a limpeza dos calçados. Sempre procuro ler ao menos os enunciados das notícias que piso. E quando diz respeito à condição feminina a atenção é total. E o editorial do jornal Diário da Manhã, de Pelotas, publicado no dia 20 de julho de 2010 me chamou a atenção.
“Mulheres na política” era o título. Um texto que enaltece a participação das mulheres na disputa pelos grandes cargos políticos do país. Eu poderia achar o discurso até digno de um menear positivo de minha cabeça, mas um pequeno detalhe, logo no primeiro parágrafo, me impediu de dar total credibilidade ao anônimo que escreve o editorial deste jornal:

“Nos últimos anos vem aumentando o número de mulheres concorrendo nas eleições em todos os níveis. No pleito deste ano, elas responderam “presente”, uma vez mais. É natural que a campanha eleitoral esteja mais interessante e mais bonita.”

Não sei se vocês compartilham comigo que, de acordo com o texto e com Kant, a presença feminina pressupõe ainda o enfeitar. Duvido que, na ausência de candidatas, o conceito do belo kantiano fosse invocado na política – salvo os veículos de comunicação dedicados às mentes debilitadas e incapazes de exercitar um senso crítico que não seja estético-industrial. (Seria o caso?)
De acordo com Kant, no texto Da Diferença Entre o Belo e o Sublime na Relação Entre os Sexos, a mulher tem a função de enfeitar e inspirar o sentimento do prazer, do agrado e da concordância dos afetos; enquanto o homem, por sua natureza ‘nobre’, tem a função de inspirar respeito.
Seria este ainda o lugar das mulheres no mundo? Vejo de forma confusa essa exaltação pérfida da ascensão feminina no mundo patriarcal, sempre relacionada ao belo, tratando-nos como bibelô. Parece que ainda não conseguimos arquivar esse passado de fragilidades e fraquezas a que o gênero feminino fora destinado pelo pensamento patriarcal.
O patriarcal é essa grande estrutura histórica marcada por um discurso que tem por base o falo, e que muitos pensadores chamaram de logocentrismo, por ser um discurso baseado num modo e estrutura que é fálica, ‘poderosa, e que se define como dona do mundo. Era assim para Aristóteles, Rousseau, Kant e outros tantos.
Os femininos ainda estão relacionados com o belo, com o enfeite social.
Gosto de pensar nos femininos quando me deparo com isso, e vejo que, de acordo com esta função social da mulher, os travestis são muito mais femininos. Eles fazem um esforço que não vem apenas de seu desejo transcendental, mas desta construção patriarcal que definiu que a mulher se enfeita.
Não vejo nenhum problema numa mulher que não usa esses penduricalhos que a inscreve num universo feminino, que nada mais é do que essa ideia débil elevada à indústria cultural. E no fim, é necessário vestir os penduricalhos se quiser ganhar votos, pois a mulher é sim, julgada também pela estética apresentada.
A mulher precisa se impor sim!
Nós, mulheres precisamos exigir autonomia sobre nossas vidas e nossos corpos, pois ainda somos prisioneiras das instituições patriarcais – Estado e Igreja – que nos calam e nos castram ainda. Precisamos pensar, falar e decidir por nós. A mulher precisa reconhecer sua vida e seu corpo como suas únicas propriedades, e assumir responsabilidade por sua autonomia, das decisões mais simples às mais complexas: amar quem quiser, quando quiser e se quiser; fazer o que quiser ou achar melhor com o seu corpo, e isso inclui o aborto.
Uma de nossas presidenciáveis disse que o aborto é uma questão de saúde pública. Pra mim é mais que isso! É uma questão de liberdade!
Concordo com ela que o aborto não é uma questão confortável para mulher alguma. Mas é necessário fazer as perguntas certas sobre o que torna o aborto uma questão de saúde pública. Estas perguntas abrangem questões educacionais, contexto histórico, condição social, interferência religiosa etc. Contudo, nunca deixarei de afirmar que, só uma mulher numa situação de se questionar sobre abortar ou não deve ser capaz de decidir sobre seu corpo. Situações de desconforto nos provocam ao pensamento.
Hannah Arendt dizia que “quando um evento nos faz pensar é porque ele tira o nosso lugar no mundo”. O condicionamento do feminino às decisões do patriarcal me tira o chão, me angustia.

“É esse tipo de evento que provoca o pensamento para que a gente consiga compreender tudo o que aconteceu, para poder se reconciliar com a realidade e poder se realocar no mundo.”
(ARENDT)

O pensar não está a serviço do pensamento, mas a serviço da vida e da nossa locação nela. A relação entre a compreensão e os eventos que nos fazem agir, são compreensões que nos fazem querer recuperar o lugar perdido. Esta é a angústia humana fundamental.
Tenho a impressão de que é essa concepção que Hannah Arendt tem deste tipo de angústia que a leva a pensar e a fazer Filosofia.
Vemos que em Heidegger e Jaspers a questão da angústia é fundamental para o pensamento, mas eles apenas falam sobre essa angústia. Arendt se angustia de verdade, e é desse angustiar-se que ela é capaz de pensar e produzir alguma reflexão que serve a todos. Não é um parâmetro e nem uma regra. Não é uma lição que ela nos dá e que nos faz decidir, mas ela nos ensina a lição de se tornar disponível a ser convocado por essa angústia que os eventos podem nos provocar, do ponto de vista da vida pessoal e da vida coletiva.
Esse angustiar-se é uma característica feminina, e que deveria participar da exaltação da ascensão feminina em campos dominados pela presença masculina. Característica essa que traz novas possibilidades a uma política que precisa ser humanista, não bonita. Essa é a verdadeira contribuição da presença das mulheres para a política.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Preta - Cordel do Fogo Encantado

Amor é coisa de Amantes!

“Não te darei bichinhos não te darei,
Pois eles querem, eles comem
Não te darei papeis não te darei,
Esses rasgam, esses borram
Não te darei discos não,
Eles repetem,eles arranham
Não te darei casacos não te darei,
Nem essas coisas que te resgardam e que se vão
Dar-te-ei a mim mesmo agora
E serei mais que alguém que vai correndo pro fim
Esse morre...envelhece...
Acaba e chora...ama e quer...
Desespera esse vai...
Mas esse volta.”
DAR-TE-EI
(M. Jeneci/H. Lopes/V. Pessoa/J.M. Wisnik)


Eu sempre concordei que datas como dia das mães, namorados, crianças e natal, não passam de chaves para movimentar o comércio. Fato. Mas algumas coisas ficam bem evidentes quando observadas com certo distanciamento. Tive essa experiência contemplativa neste último fim de semana, quando se passou o dia dos namorados.

Como toda boa carioca, haviam duas datas em que eu fazia questão de estar solteira. A saber, Carnaval e o famigerado Dia dos Namorados. Mesmo nos relacionamentos mais longos, sempre havia uma separação nestas épocas e uma retomada poucos dias depois. O famoso “tempo”.

Os motivos? Clichês: aproveitar o carnaval e não gastar com presentes.

Ok, eu nunca tive um Dia dos Namorados em meus 26 anos. Também, nesse tempo eu nunca quis estar com alguém. Mesmo quando eu estava com aquela amada guria carioca, eu não pensava nessa data e nem me movia por ela.

Mas este ano aconteceu. Toda essa vontade de estar com uma determinada pessoa e só com ela, finalmente veio. E junto com ela, toda aquela coisa de planejar dias antes e várias possibilidades pra que ela pudesse escolher o que lhe fosse conveniente. E ela nem era minha namorada... Mas a vontade de estar junto, uma da outra, era maior que qualquer título amoroso. Era o próprio amor – por que não? – desrotulado de tudo: “Amor que não se pede, que não se mede e que não se repete” (Cidade Negra).

Por mais que a gente quisesse estar juntas, e até mesmo gritar aos quatro ventos essa vontade, nada foi possível. E vendo a minha frustração desarrumando o quarto decorado para um dia com minha Preta, e vendo os comentários das pessoas solteiras, que iam desde “antes solteira no dia dos namorados do que comprometida no carnaval” até coisas do tipo “12 de junho é dia da independência russa”, fiquei pensando que, uma data que é banal – sim, por falta de uma reflexão profunda – tinha, então, um significado maior para os amantes. Sempre gostei mais dos termos amantes que de namorados. Deve ter o dia dos amantes. (Perguntei ao Google: 22 de setembro! Perfeito!)

Os amantes nunca terão um Dia dos Namorados. Talvez nem um Dia dos Amantes. Talvez nenhum dia e ainda assim continuarão amantes, por um amor transcender calendário e comércio. Este último nunca tentará vender flores, jóias, chocolates, bichos de pelúcia, jantares em restaurantes ou viagens românticas por dois motivos óbvios. Primeiro porque nossa sociedade foi erguida sobre valores que assassinaram Eros e o corpo. Segundo porque os amantes não querem presentes, mas presença, doação.

Pensei num desdém com estes amantes, pessoas que apenas amam.

Como os Malvados dizem: “O egoísmo impera”. Quem tem alguém para um simples programinha ou mesmo um beijo corrido ao longo do dia é tão egoísta quanto aquele que está sozinho e busca um outro foco para a data dos tais namorados. Por certo nunca pensaram nas pessoas que não podem estar juntas naquela data, apesar das vontades, apesar do amor. Das pessoas que estão em trânsito nesta data às pessoas que vivem um amor secreto e guardado com delicadeza nos pequenos gestos de carinho. O 12 de junho é muito banal pra quem está dentro de um “padrão social e moral”, mas é tão importante pra quem tem um amor maior que essas convenções...

Os “imorais” da história são outros. São os “banais”, que não se importam com aquele rapaz que só pode viver seu amor na calada da noite; com aquela dona que mora do outro lado da cidade e que tem um amor que não pode transparecer nesta data para não chocar; no casal que vive junto há muitos anos, se fazendo de encalhados, pois dão preferência à convivência com a falta de amor do que se chocarem com amores que estão além do físico..

Sim, o amor choca.

Mas nos perguntemos se os chocados sabem, de véras, o que é o amor? O amor para eles também não é condicionado? Em algum lugar li a frase de um militar que dizia: “Ganhei uma medalha por matar dois homens e fui condenado por amar um.”

Toda forma de amor, consentida pelos amantes é válida sim. Ou ainda há quem prefira a guerra?

E para ser amante, não é necessário sexo. Amante é só e unicamente aquele que ama. Que ame os gatos, que ame os cães, as árvores, as canções, as pessoas... Pois um amante de verdade não vê dualidades nem ama a carcaça. O amante ama aquilo que nem ele enxerga. Ama a existência do objeto de seu amor, apenas. Um amor honesto e forte por não ser construído pelos outros, mas por ter nascido dos encontros com os outros. Sobre esse encontro, Gutraut de Borneilh (Circa 1138-1200?) escreveu:

“Assim, pelos olhos, o amor atinge o coração:
Pois os olhos são os espiões do coração.
E vão investigando
O que agradaria a este possuir.
E quando entram em pleno acordo
E, firmes, os três em um só se harmonizam,
Nesse instante nasce o amor perfeito, nasce
Daquilo que os olhos tornaram bem vindo ao coração.
O amor não pode nascer nem ter início senão
Por esse movimento originado do pendor natural.
Pela graça e o comando
Dos três, e do prazer deles,
Nasce o amor, cuja clara esperança
Segue dando conforto aos seus amigos.
Pois, como sabem todos os amantes
Verdadeiros, o amor é bondade perfeita,
Oriunda – ninguém duvida – do coração e dos olhos.
Os olhos o fazem florescer;
o coração o amadurece:
Amor, fruto da semente pelos três plantada.”

Os amantes não podem se encontrar no dia 12. Mas certamente estarão juntos no dia 14 ou 15 ou outro dia. Mesmo que as horas sejam poucas, poucos minutos e por vezes corridos. E sempre vai valer à pena a paciência, a espera, a solidão destas horas em que a amada não pode estar... O cheiro e o gosto deste amor que não desespera, mas engrandece cada segundo, torna tudo mais especial: a lembrança do corpo nu que repousa de bruços sobre a cama, os sinais no corpo que são visíveis até na escuridão, as curvas que as mãos não param de percorrer, os cheiros espalhados e misturados, os músculos tensos de algum prazer, o sorriso doce e os olhos serenizados entre tantos beijos.

“Vê como a gente se espelha e se espalha
Um transparece no outro o que pensa e o que fala.
Quando o momento maior poliniza tudo ao redor
E faz o amanhã nascer melhor.
Vê como a gente se estende e se espraia
Teu corpo se veste do meu que não tomba da raia.
Quem for parar pra me ver lá no fundo verá você
A brilhar em mim...”
PODER
(J. Vercílo)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dois Sem Dó

A dupla Dois Sem Dó está saindo do armário.

O som deles está disponível em www.myspace.com/doissemdo

Landa no Joquim