domingo, 13 de outubro de 2013

Pesquisa Acadêmica = Viagem na faixa!


Sou estudante de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas/RS e tenho vulnerabilidade socioeconômica, o que me permite viver na Casa do Estudante e ter alimentação gratuita no RU. Resumindo: faço parte de um grupo de estudantes de graduação que não tem fonte de renda e nem ajuda e familiares.

Legal, mas o que alguém que vive nessas condições tem a acrescentar sobre viagens?

Bem, a verdade é que sei muito bem como ser vagabunda profissional, ou, mais precisamente, vagabunda acadêmica ou graduando. E resolvi, inspirada pelo blog Vagabundo Profissional (http://vagabundoprofissional.com/) compartilhar um pouco da minha experiência em viajar às custas da universidade.

Eu, sempre na estrada, com camisa da universidade pra facilitar identificação na carona.

Companheiro e vizinho Mário Jr, também devidamente identificado com camisa da UFPel.


Vejo muitas pessoas ao meu redor, dentro da universidade, reclamando que não podem viajar, seja porque não têm grana, seja por falta de tempo, seja porque não podem faltar na faculdade. A verdade é que, isso não pode ser usado como argumento quando você tem real envolvimento com a vida acadêmica e, especialmente, com a militância estudantil. E quando eu falo em militância não me refiro a envolvimento com partidos políticos, coletivos, DCEs ou centros acadêmicos. Pois você não precisa fazer parte destes grupos pra observar as condições educacionais, especialmente do ensino público, e lutar por melhorias.

Ok. Mas, outra vez: o que isso tem a ver com viagens?

Nenhuma dessas desculpas supracitadas podem ser usadas como argumento para não viajar durante a vida acadêmica. Não é todo mundo que tem grana pra férias. Mas qualquer um, com devido planejamento e comprometimento, consegue viajar na faixa e de quebra conviver durante alguns dias com pessoas de diversos lugares e hábitos diferentes, além de ter experiências acadêmicas que acrescentam o currículo, geram certificados e horas de atividades extracurriculares.

Carona com O Bailarino

Carona com Jerry Adriani (!!)

Chegada em Floripa, recepcionados pelos residentes da CEU UFSC, no ERECE Sul 2012


Em geral, todos os cursos – ou ao menos os mais tradicionais – possuem organizações estudantis a nível nacional, que constroem encontros e congressos de estudantes. Por exemplo, a Filosofia tem a ABEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Filosofia), que organiza anualmente dois eventos: ENEFIL (Encontro Nacional dos Estudantes de Filosofia) e o COBREFIL (Congresso Brasileiro dos Estudantes de Filosofia), sendo este último de caráter organizativo e político. Mas em ambos, estudantes de Filosofia de todo o país se reúnem pra apresentar trabalhos, assistir palestras organizadas pelos próprios estudantes, com assuntos também escolhidos por nós, e, por vezes, escolhemos até os palestrantes.

Fora os encontros e congressos nacionais de cursos, ainda existem os encontros regionais.
No meu caso, que sou residente de Casa de Estudante, ainda conto com encontros nacionais e regionais de Casas de Estudantes, e mais os pré-encontros de Casas, tanto nacional como regional, com caráter organizativo dos encontros.

Mas de que adianta ter tantos eventos que acontecendo anualmente em cidades diferentes se não tenho dinheiro pra viajar?

Bom, essa é a parte importante.

Não se pode esquecer as Culturais diárias que os encontros promovem pra rolar o intercâmbio cultural

Alojamento com teto é luxo pra quem costuma acampar em posto de gasolina. Fotos do EREFIL Sul 2011 - UFSC


As universidades investem em estudantes que produzem e participam de eventos apresentando trabalhos e divulgando, assim, o nome da instituição. Em geral, quando se apresenta trabalhos ou se ministra atividades ou oficinas nestes eventos, ganha-se um certificado de apresentação de trabalho, além do de participação, e por vezes, conta-se com publicações de artigos. E isso é muito bem visto pelas universidades. Desta forma, fica fácil conseguir pela tua própria instituição de ensino, financiamento de passagens, diárias e até inscrição nos eventos. Tudo pra garantir que o estudante, ao divulgar seu trabalho, divulgue também, o nome da instituição.

E se um grupo grande de estudantes vai apresentar trabalho no mesmo evento, rola até de conseguir um ônibus por conta da universidade pra levar estes e outros estudantes interessados em participar do evento. Fora os eventos organizados pelo Movimento Estudantil, existem outros eventos específicos organizados pelas próprias universidades, não apenas para seus estudantes, mas aceitam trabalhos e inscrições de estudantes de outras instituições. Geralmente as universidades públicas possuem verba pra viagens para estudantes em participação de eventos. Busque informação, produza conhecimento e corra atrás. Às vezes até rola de pegar carona com outras universidades.  

Cumprindo a proposta, apresentações de trabalhos e troca de experiências acadêmicas são fundamentais

Aproveitando o dia livre pra conhecer as comunidades. Fotos do ENEFIL 2012 UFMA


E se você for morador de Casa de Estudante de alguma universidade, daí você tirou a sorte grande, meu amigo! Sim, ser pobre tinha que ter alguma vantagem...

Então, meu caro companheiro e vizinho residente de CEU, você precisa conhecer os seus direitos. Assistência estudantil não é só casa e comida (e por vezes, roupa lavada). O Decreto Nº 7.234, de 19 de julho de 2010, que dispõe sobre o PNAES – Programa Nacional de Assistência Estudantil, se apresenta com objetivos como “minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior” e também “contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.” Ou seja, meu companheiro de assistência estudantil, você pode requisitar a verba do PNAES da sua IFES pra financiar aquele trabalho que tu queria apresentar lá naquele congresso no Oiapoque ou no Chuí. Claro que vai depender se seus argumentos forem convincentes, o trabalho digno e ainda houver sobra dessa grana do PNAES na sua universidade.
E além disso, se você está de férias, mas não tem dinheiro pra viajar e nem se hospedar por aí, muitos eventos estudantis acontecem em feriados prolongados e nas férias (e se você participa de algum durante o período de aulas, com certificado na mão tu pode solicitar abono ou justificar as faltas). Além de tentar carona, seja na estrada (recomendo sempre!), seja com ônibus de universidades vizinhas, sempre rola a hospedagem solidária nas Casas de Estudantes. Mas se liguem! Não é pra qualquer um! Pode até ser que você chegue do nada numa CEU e peça hospedagem por uns dias e consiga. Mas é muito mais fácil se você, como residente de CEU,  participa do Movimento de Casas de Estudantes, e luta por melhores condições de moradia e de assistência estudantil. A militância te permite conhecer companheiros de Casas de vários lugares do país, o que pode te ajudar seja pra uma hospedagem durante um congresso, durante um período de provas, ou mesmo nas férias.

Intercâmbio musical no alojamento do ENEFIL 2011 UFF Niterói

Dia livre com rolê pela orla de Niterói, 2011


Normalmente os eventos possuem dias livres, que te permitem passear e conhecer a cidade onde os eventos acontecem. Hora de fazer turismo! E se você tiver espírito explorador, sairá das rotas tradicionais de turismo pra se arriscar conhecendo coisas novas e diferentes.

Pra vocês terem ideia, em três anos de faculdade, viajei na faixa, com tudo pago pela universidade para São Luis do Maranhão, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília, Niterói, Rondonópolis, Porto Alegre (essas são as que me recordo). E ainda este ano estou pleiteando mais uma viagem para São Paulo, Salvador, Palotina e Cuiabá. Tudo isso apresentando trabalho de pesquisa. E pras férias, estou vendo carona com ônibus de estudantes pra Fortaleza, e com caminhoneiros – sempre parceiros dos estudantes – para Argentina e Uruguai.

Lutando por mais moradias estudantis nas universidades - ENCE 2013 UFRJ

Ilha de Paquetá, RJ

Oficina de Siriri, com o pessoal da UFMT, durante o ENCE 2013

Parque Nacional da Floresta da Tijuca


Portanto meu caro amigo, sua produção acadêmica pode te ajudar muito a viajar e conhecer lugares e pessoas, mesmo sem nenhum tostão no bolso. Ou melhor ainda, com tudo financiado pela universidade. Assim, você não precisa esperar se formar, entrar no mercado de trabalho e juntar dinheiro pra poder viajar. As oportunidades estão aí.

Procurem seus colegas de cursos pelo país, e as associações de estudantes do teu curso. Fique sempre ligado nos eventos acadêmicos espalhados pelo Brasil – e pelo exterior também. Se informe na sua universidade sobre auxílio viagem. E se você é atendido pela assistência estudantil, se informe sobre o PNAES (decreto disponível no site do MEC http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=607&id=12302&option=com_content&view=article).

Façam valer seus direitos e pé na estrada, não só pra passear, mas pra mostrar seu trabalho e trocar conhecimento. Isso também é formação acadêmica!

E não se esqueça de sempre estar ligado nas oportunidades de mobilidade acadêmica e de intercâmbios! 

Aldeia Maracanã, 2013

Almoçando na Universidade Indígena Aldeia Maracanã

Aldeia Maracanã, Rio.

 
Pôr do Sol em Pelotas durante o Pré-ERECE Sul 2013

Pré-ENCE 2013, UFMT Rondonópolis

Melhor companheira de viagens de todos os tempos, devorando os cocos de Rondonópolis/MT 

Pré-ENCE 2013, UFMT

Feira notura em Rondonópolis, devido ao calor que acontece durante o dia.
Aldeia Maracanã, 2013
Aldeia Maracanã, 2013

Povo do Matogrosso nos presenteando com uma bela peixada