檢查 (Jiancha)
檢 Jian - Conferir
查 Chá - Pesquisar/Investigar
Unindo estes dois ideogramas e traduzindo e interpretando de acordo com a Língua Portuguesa, teremos uma palavrão do qual eu mesma tenho medo.
Eu poderia usar o termo em minha defesa, mas optei por usar em ataque a minha pessoa.
Ninguém sabe da realidade do outro, dos sentimentos e percepções do outro. No entanto, nos expressamos de acordo com esses itens. Por vezes de forma racional, outras vezes de forma passional e, em outras, misturando tudo.
Eu escuto e faço muitos discursos sobre indivíduos e grupos. Sei da separação, mas também não oculto a ideia de que grupos são formados por indivíduos agregados. Daí, como separar?
Meses atrás, presenciei uma situação que interpreto como violência gratuita, covarde e inconsequente - e pronto, é minha interpretação. Não concordo em agredir as pessoas só por causa de suas ideias ou mesmo, sem saber ao certo que ideias são essas, sua origem e significado para o portador de tal ideia. E diante da violência física e da agressão de gênero, tantas vezes usadas pelo sistema em que vivemos com forma de repressão, agressão e censura, passei a considerar um grupo, que até então, por minha própria experiência em contato e apoio com os ideais deste movimento no Rio e em SP ao longo de mais de 10 anos, considerei os integrantes do movimento pelotense como 'neo-neonazistas'. Interpretei a experiência como uma inversão de valores e atitudes. Aquele que num momento seria esperado como agressor, fora agredido covardemente e nem optou por se defender. Foi pacífico e quis diálogo com seus agressores, e de quem eu particularmente esperava por atitudes que visassem o bem estar coletivo, sendo que estávamos em local público - um bar.
Meti-me no meio da confusão. E ao contrário do que muitos pensam, não o fiz por ser pavão. Nem preciso tomar um soco na cara e ser chamada de vadia, vagabunda e etc para aparecer. É risco demais e espero que realmente entendam o motivo de ter entrado nisso e tentado dialogar antes que o pior acontecesse. Eu realmente tentei e pedi ajuda, mas poucos foram os que ajudaram a tentar impedir o que parecia que se tornaria um massacre (mais uma vez ressalto a MINHA interpretação). Contudo, eu tornei-me mais uma vítima, quando vi que eu mesma estava próxima de cometer uma covardia quando segurei pelo pescoço o meu agressor imobilizado e quis devolver a agressão e a dor moral - que era maior que a física - consegui desfazer meu punho, cessar meus gritos cobrando coerência e fui embora. Optei por explodir de outra forma, em outro lugar, pra não agir como o que estávamos combatendo.
Duas pessoas foram identificadas como agressores. Depois do evento, em que tentei diálogo com o grupo do qual os dois faziam parte, e onde ouvi palavras de ameaça ao cara que estava do outro lado da rua, tentativas de censurar o direito de ir, vir, pensar e se vestir como se quer, representantes do grupo vieram me procurar para uma conversa de retratação. Os recebi e conversamos na intenção de esclarecer. O erro foi reconhecido pra mim. O pedido de desculpas veio pra mim, e eu particularmente, acho que deveria ser direcionado a outros e coloquei isso em questão.
Tudo bem, tudo certo. Mas quem já apanhou alguma vez na vida, sabe da adrenalina que corre nas veias quando o teu agressor ou pessoas que remetem a eles aparecem. Penso que muitos dos que lerão estas palavras, já apanharam de policiais, assim como eu apanhei várias vezes. E qual é a reação de vocês quando estão diante de forças policiais? Certamente a adrenalina corre nas veias de vocês, como nas minhas. Certamente há a dificuldade de confiança, mas temos que conviver com as pessoas e acreditar que as pessoas erram e que as coisas podem ser diferentes.
Isso nunca me tirou o medo e a cautela depois do evento. As pessoas mais próximas sabem disso. Assim como sabem também que eu tentei ficar de boa.
Porém, dias atrás, um novo encontro ao acaso e, uma nova interpretação: de que as falas eram pra mim, os risos e apontamentos eram pra mim e em minha direção.
O motivo de eu interpretar como uma agressão dirigida? As palavras que eu ouvi foram facilmente associadas por mim com o primeiro evento e a conversa que se seguiu. Direcionei e interpretei que era pra mim ao ver que, neste grupo que ria, apontava e falava alto - em tom que interpreto como provocação - estava uma pessoa que esteve diretamente envolvida no primeiro evento e se fez presente na conversa.
Além disso, declarações ao vento de que "se matando um homem eu soubesse que mataria a ideia dele, eu mataria este homem" e toda informação anteriormente guardada pelos acontecimentos, me senti provocada e ameaçada.
E esse sentimento foi tão forte que, fui embora, evito sair nas ruas, evito sair com amigos, e me expressei em redes sociais de forma agressiva e pesadíssima, como alguns acompanharam. E a minha declaração, seguiram-se outras de insatisfação com um grupo que, eu acusei pelo comportamento de indivíduos que o integram. Revirei e revivi o evento que ocorrera antes, me baseei em agressões de gênero (pois pra mim, chamar uma mulher de vadia e vagabunda é uma agressão ao gênero feminino), nas agressões físicas vividas e presenciadas e julguei que o assunto não estava morto, mas que estava apenas ocultados até que as mentes entorpecessem e esquecessem dos acontecimentos.
Fiz uma acusação que reconheço como injusta, que foi homofobia, pois não separo minha sexualidade de nada em mim. Ela também me forma. Contudo, houve um excesso de vitimização minha ao declarar homofobia ao associar com a ofensa a uma mulher que, por um acaso, é lésbica. É um erro gravíssimo cometido por muitos homossexuais quando agredidos por qualquer outro motivo. Uma falta de responsabilidade minha com vários indivíduos e grupos. Reconheço isso e eu devia uma declaração a estes.
Recebi uma ligação do citado na declaração publicada em uma rede social, onde, entre 'elogios' feitos a mim, ele explicava que eu não era o alvo, não era o assunto e que nada neste último evento estava relacionado a mim. Que não havia uma zombaria direcionada. E assim sendo, se o que eu ouvi, vi, senti e assimilei não era o que realmente acontecia, não posso afirmar, pois como já dito, sei de mim, não sei dos outros e vice-versa. O que é válido pra mim, pode não ser para o outro e vice-versa. Se me senti provocada com as coisas que vivenciei, de certa forma, vejo uma razão. Se uma vez um cacetete nos agrediu, sempre que vemos policiais falando coisas fáceis de relacionar e olhando e apontando em nossa direção, ficamos alertas e na expectativa de que o cacetete venha outra vez contra nós.
Foi imprudente envolver o nome de um grupo por conta de indivíduos? Sim, foi imprudência minha, movida pelas emoções, pelos medos e indignações presentes. Um ataque como defesa. Um ataque tão covarde quanto o que iniciou tudo isso.
O mundo é pequeno e dá voltas.
Se sinto-me provocada sem razão, isso se mostrará com atitudes, com ações. Coisas que me mostrarão que estou errada.
Pra quem acha que a internet é um meio pequeno e limitado de expressão e contatos, que seja sempre lembrado o estrago que pode fazer - vide a-revolt.org e a mobilização digital.
Aos que não estavam envolvidos nos eventos e foram injustamente ofendidos por mim, resta-me a retratação e reconhecimento de que a exposição do grupo foi um grande erro. Ao citado, minha acusação de homofobia foi irresponsável e covarde.
Procurei não centrar acusações aqui em outros, que não em mim mesma. Cada um sabe dos seus erros e que aja responsavelmente com suas atitudes e falas. E sinceramente, espero nunca mais vivenciar nenhuma das situações ocorridas. Se há uma briga entre grupos ou indivíduos neste Estado, e se eu puder evitá-la onde eu estiver, vou tentar evitar. E se algo acontece, vou me manifestar sim. Assim como eu espero que os outros se manifestem ao invés de calar. Nada pode ser resolvido com o silêncio e a tentativa vã de esquecimento.
Cabe a cada um a informação em detrimento da 檢查 (jiancha). Cabe a todos o respeito pelo direito do outro pensar e sentir.
Sem mais.
Um comentário:
Apesar de tudo, a internet é, teoricamente, espaço livre para livre expressão.
Ao menos este blog, é.
Fiquem à vontade.
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