sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Como esquecer

O que será que é o contrário do amor?
Algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.
O amor é sempre um pacto contra o tempo.
Como esquecer?




O fim de uma relação nos leva a buscar sentimentos que sejam contrários ao amor, que auxiliem e justifiquem o esquecimento. A ajuda que falta para suportarmos ou nos abandonarmos a dor que já não pode mais ser compartilhada. Precisamos reagir.


“O que será que é o contrário do amor?”


Antes de buscar respostas pra isso, devemos investigar o que é o amor. Num parecer pessoal, o amor é sempre um sentimento solitário, assim como a paixão, os prazeres e as dores: não há medida para eles. O amor pressupõe a vontade de compartilhar de tudo, ter para onde correr seja para um abraço e um beijo caloroso, seja para um ombro acolhedor e disposto a oferecer cuidados. Penso que amar é cuidar, em todos os momentos. Amar é fazer respirar e tirar o fôlego. Ter sapiência disso.


Quando examino aqui o amor, não me prendo ao amor de Eros, pois prefiro tratar desde como paixão ou amor físico. Procuro me referir ao amor que partilha do conhecer o outro e ser suporte para este. Prefiro especificá-lo por cumplicidade.


Conviver com o outro incide em aceitar sua situação presente e seu passado. Estar junto para a construção de situações futuras melhores. A vontade de se unir ao outro, estar conectado com aquele que te dá segurança, autoconfiança e o prazer desta convivência.


“O amor é sempre um pacto contra o tempo.”


Se amar é lutar contra o tempo, quando o amor acaba? Será que ele acaba? Que os descuidos acontecem é fato. Se o objeto de seu amor já não lhe serve mais, ele era amado realmente ou foi apenas um meio conveniente que se esgotou?


As pessoas usam umas às outras para obter a satisfação das sensações, seja pela presença prazerosa ou pelo conforto ou segurança financeira. Quando estas coisas acabam, somos descartáveis. Ou pior: substituíveis.


O parasita parte em busca de outro hospedeiro para seu, dito, ‘amor’. E quem fica sente o peso da vitória do tempo sobre a ilusão de ter encontrado alguém que goste de você pelo seu sorriso tímido, pelas feições tristes de um dia ruim, pelo seu jeito de olhá-la, pela paz do abraço, o peito acolhedor, as mãos entrelaçadas, as ligações inesperadas no meio da noite... A simples expressão da saudade que o outro causa. Parece que todas as atribuições dadas ao outro foram mentiras. Não sabemos. Talvez nem o outro saiba.


Daí a necessidade do distanciamento. Quando nos afastamos lançamos outra perspectiva sobre o amado. Observamos os detalhes antes ignorados. Vemos os interesses, comportamentos, olhares lançados sobre os outros. Notamos que, se ontem, parecia que nosso abraço era o refúgio onde se podia esquecer todos os problemas, hoje sequer é um objeto varrido pra debaixo do tapete. Já não fazemos diferença e deixamos de ser importantes pra quem tanto nos importa. Hoje tudo está voltado pra outra pessoa. Você não tem mais nada a oferecer, se tornou obsoleto. Sua presença agora é apenas para inflar o ego ou para machucar.


Acreditar que tudo isso é mentira é causar mais dor a si, esperando que o amado seja tão cuidadoso quanto o amante.


Ninguém oferece amor na mesma medida. Amor nunca é recíproco.


E quando chega a hora de acabar com o que já estava falido, parece que é importante causar dor ao outro e a si mesmo. Brigar se faz necessário pra justificar o desafeto. É como se, a separação necessitasse da violência. Inclusive a violência interna, o medo de ouvir as palavras cuja existência já era evidente.


Penso que as pessoas se unem porque querem estar juntas, e se separam porque não querem mais estar juntas. E não vejo necessidade de violência para abrir a porta e deixar que outro se vá – ou fique plantado em nossa porta esperando o momento em que ninguém no mundo seria mais preciso que ele.


Talvez esse momento nunca venha e ficamos ao relento de tantas noites tornadas dias à toa. Abandonados, como cão doente. E a espera cansa.


É então que decidimos tentar voltar à vida: “Algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.”


Ela não te quer por perto. Talvez nem ela mesma saiba disso. Talvez até queira, afinal, se tudo der errado ela terá você para culpar ou para se redimir. Nem todo mundo concebe que maltratar não é direito de ninguém. Nem todo mundo consegue pedir desculpas pelas falhas. Por isso preferem culpar os outros por todos os seus fracassos.


Depende de nós assumir a tolerância de um ninja ou o desapego de um samurai caçador de recompensas. Não há neutralidade nesta situação. Há muita dor, em ambas as opções.


Voltar geralmente é partir para um outro lugar. E não importa o quão longe a gente vá e nem se voltaremos. Carregaremos sempre estes amores que compactuaram contra o tempo e nos tornaram pessoas piores do éramos. Nos tornaram inseguros, incertos e desconfiados, afinal, tudo o que amamos partiu pra nunca mais voltar e agregou a dor ao amor.


Ninguém é capaz de te amar. Você não tem mais nada de importante para ela. Nem dinheiro e teu imprestável amor. Sempre gostamos de pessoas que não gostam da gente


Como esquecer? Improvável que seja possível. Essas coisas vão te machucar pra sempre e moldar todas as tuas relações vindouras.


O que será que é o contrário do amor?


Penso que não conseguirei responder essa pergunta enquanto o meu amor doer tanto de desprezo e descuido.


Talvez um dia eu seja capaz do distanciamento oferecido pela prudência para ponderar sobre a natureza dos eventos. Com o tempo a gente passa a evitar a foto na parede e ninguém vai notar que jamais seremos os mesmos.


Uma coisa é certa. Não se pode negar a beleza dos momentos agradáveis do passado, a sensação de conforto de outrora, os olhos que se diziam apaixonados. Por mais difícil que seja aceitar que o outro já não sente o que dizia sentir, é necessário acreditar que o que ele diz é verdadeiro e não apenas uma tentativa de se iludir ou se enganar. É preciso dar valor às palavras do outro.


E ao tempo, uma canção: “Tudo se agita em vão e é tão bonito. Não se consome o presente infinito. Preta Pretinha! Lembrei o teu nome e vou te chamar.”













sexta-feira, 1 de outubro de 2010

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